Neste artigo, exploraremos a compreensão da Psicanálise sobre a velhice, analisando as mudanças de paradigma e o impacto na prática clínica. No seu surgimento, a Psicanálise apresentou uma visão limitada e muitas vezes negativa sobre a velhice. Inicialmente, via-se o envelhecimento como uma fase de declínio inevitável e de afastamento das práticas analíticas. No entanto, nas últimas décadas, essa perspectiva tem sido desafiada e transformada.
A Perspectiva Inicial da Psicanálise sobre a Velhice
Inicialmente, a Psicanálise não dava muita atenção à velhice. O contexto histórico da época, que via o papel do idoso como de recolhimento e espera da morte, influenciou a teoria psicanalítica. Sigmund Freud, por exemplo, considerava a velhice como uma fase que poderia levar à atrofia psíquica e à sedimentação das defesas, o que dificultaria a análise da gênese dos sintomas. Esse ponto de vista refletia um pessimismo prevalente e uma formação biologizante, limitando a inclusão dos idosos na clínica psicanalítica.
Mudanças no Conceito de Velhice a partir das Décadas de 70/80
A partir das décadas de 70 e 80, houve uma mudança significativa na concepção de velhice, com o surgimento do conceito de terceira idade. Essas mudanças na posição social da velhice influenciaram o registro existencial dos idosos, transformando a velhice de um “fim de vida” para uma fase com novas possibilidades. Para Ângela Mucida, embora o envelhecimento traga à tona um Real difícil de suportar, o inconsciente não envelhece, levando à negação do envelhecimento. O idoso é frequentemente visto como o “outro”, refletindo um desafio persistente na compreensão psicanalítica da velhice.
Resistências e Estigmas: Compreensão da Psicanálise sobre a Velhice em relação à Sexualidade
A sexualidade dos idosos é um tema que frequentemente encontra resistência, ridicularização e infantilização. Para a psicanalise, a dificuldade em abordar a sexualidade dos idosos está relacionada ao fato disso implicar reconhecer e falar sobre a sexualidade dos pais, o que muitos filhos preferem evitar. Desse modo, essa resistência aponta para um tabu cultural que a Psicanálise precisa enfrentar para proporcionar uma análise mais completa e honesta.
O Papel da Psicanálise na Atualidade e a Inclusão dos Idosos
Os idosos estão desafiando o lugar que a sociedade tradicionalmente lhes reserva e buscando ativamente assumir seu próprio espaço de fala. Desse modo, apesar das resistências históricas, compreensão da Psicanálise sobre a velhice não é mais a mesma. A Psicanálise deve, portanto, incluir os idosos no circuito do desejo e reconhecer sua presença como sujeitos ativos e não apenas como receptáculos de discursos sociais desatualizados. Assim como as crianças e os psicóticos foram incluídos na prática analítica, os idosos também devem ser integrados na clínica contemporânea.
Conclusão: Novas Possibilidades e Desafios para a Prática Psicanalítica
A prática psicanalítica vem processo de transformação em relação à compreensão da velhice. A inclusão dos idosos na clínica e a mudança na visão da terceira idade refletem um avanço na psicanálise, tornando-a mais inclusiva e atual. Ao enfrentar e desafiar preconceitos antigos, a Psicanálise pode oferecer um suporte mais significativo e renovador para os idosos, ajudando-os a explorar sua pulsão de vida e o desejo de viver plenamente.